terça-feira, 9 de outubro de 2012

Os cheiros que viram gosto



Os cheiros que viram gosto

A Natura convidou a chef paulista Bel Coelho para traduzir em receitas culinárias os aromas contidos em vários perfumes da marca

Pescada-amarela em crosta de noz-moscada com espaguete de pupunha ao molho de capim-santo foi um dos pratos servidos / Igo Bione/JC Imagem

Pescada-amarela em crosta de noz-moscada com espaguete de pupunha ao molho de capim-santo foi um dos pratos servidos

Igo Bione/JC Imagem

No romance O perfume, o autor Patrick Süskind nos brinda com um personagem ao mesmo tempo repulsivo e fascinante: Jean-Baptiste Grenouille (sobrenome que, em francês, significa rã). Destituído de todas as graças com as quais a natureza costuma dotar, em maior ou menor grau, os seres humanos, ele nasceu, no entanto, com um grande dom: um olfato que lhe permitia não só sentir todos os cheiros da natureza, bem como decodificá-los e reagrupá-los como melhor lhe aprouvesse.
Jean-Baptiste teria sido um grande perfumista, não houvesse virado um serial killer devido à sua ambição em obter aquela que seria a melhor e mais irresistível essência já criada no universo, encapsulando-a num diminuto vidrinho.

E se vamos começar este assunto pela porta da literatura não dá para deixar de lado, por mais clichê que essa abertura tenha virado, o muito citado e pouco lido Em busca do tempo perdido, de Marcel Proust, que usa a madeleine, um bolinho em forma de concha, para explicar a memória involuntária.
Na primeira história (spoil alert), o anti-herói Grenouille, de fato, consegue criar a poção almejada, mas, ao aspergi-la sobre a multidão, dá origem a tal frenesi de emoções que lança as pessoas em cenas orgiásticas de sexo e canibalismo. Na segunda trama, ao morder o doce com um gole de chá, o protagonista tem os sentidos invadidos por tamanho prazer, que poderia facilmente ser associado a amor, plenitude e felicidade.
Na vida fora dos livros, não são poucas as vezes que encontramos um cheiro que, de tão bom, gostaríamos de materializá-lo, incorporá-lo em nossa própria essência. “Tão bom que dá vontade de comer”, já dissemos alguma vez de um sabonete, de um perfume, de um gloss labial. Desejo mais do que natural se pensarmos que boa parte dos componentes de uma fórmula de cosmético vem, realmente, da natureza e tanto poderia estar ali, num creme facial, quanto na panela que levamos ao fogão.
O chef pâtissier catalão Jordi Roca, do restaurante com três estrelas no Guia Michelin El Celler de Can Roca, teve sua epifania gastrocosmética ao receber de um amigo uma caixa de tangerinas e associar o aroma das frutas ao perfume Eternity, de Calvin Klein. A partir daí não parou mais de fazer transcrições para outras marcas – Dior, Carolina Herrera, Bulgari – e a utilizar ingredientes antes mais familiares ao universo dos perfumes que das sobremesas: lavanda, verbena, rosas, flor de laranjeira, papoula.
Não que flores já não pertencessem ancestralmente a algumas culinárias, mas primordialmente porque Roca e seus irmãos (Joan e Josep), que trabalham conjuntamente no restaurante, desenvolveram métodos que potencializavam as experiências sensoriais desses extratos.
Foi com a experiência no currículo de uma estada de aprendizado, em 2007, ao lado de Jordi Roca que a chef paulista Bel Coelho, discípula também de Alex Atala e hoje proprietária e comandante do Dui, em São Paulo, foi convocada pela Natura para verter em receitas culinárias cinco perfumes, cada um pertencendo a uma linha distinta do portfólio da empresa.
O resultado vem sendo apresentado em diversas capitais brasileiras para um público de 150 pessoas, selecionadas entre formadores de opinião. No Recife, o evento aconteceu no último dia 27, na Usina Dois Irmãos. “Conseguimos traduzir os cheiros em forma de sabores e isso foi uma experiência maravilhosa. É incrível ver essa concretização. Até eu fiquei surpresa com o resultado final. As formas, texturas e aromas dos pratos remetem imediatamente aos conceitos dos perfumes Natura”, afirma Verônica Kato, perfumista exclusiva da marca.

Publicado em 05/10/2012, às 15h24

jconline.ne10.uol.com.br

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