domingo, 14 de outubro de 2012

Jorge Amado


Conheça os amores e os sabores preferidos de Jorge Amado



Nas histórias que contou e na vida real, o autor baiano admirava extravagâncias.


O céu, o mar e um horizonte para lá de generoso. Fartura de encontros e paixões. E que apetite. Nas histórias que ele contou e também na vida real, Jorge Amado admirava extravagâncias.
"Comida das histórias da Bahia", diz a quituteira Dadá.
Comida para Jorge Amado era fartura?
"Fartura era importantíssimo", diz Paloma Amado, filha do escritor.
"Na casa dele nunca tinha um prato só", conta Dadá.
A quituteira Dadá fazia tudo para saciar o mestre. Ela topou preparar o prato preferido dele. Uma vez, em Paris, ele lembrou os tempos de comilança.
"Nós íamos entre 1h e 2h e comíamos imensos sarapatéis. Comíamos um negócio que eu não como há muitos anos, que é uma das comidas mais pesadas, feita com a folha da mandioca, a maniçoba. É um prato pesadíssimo”, contou Jorge Amado, em uma entrevista ao repórter Pedro Bial.
Maniçoba é uma feijoada sem feijão. Em vez do grão, a folha da mandioca é carregada nas carnes
bem gordurosas.
"Ele dizia que estava de dieta, mas passava pela cozinha e provava de tudo", revela Paloma Amado.
Arroz de hauçá era o prato preferido de Jorge Amado.
"É uma comida muito requintada, muito elaborada, do norte da Nigéria", explica Paloma.
A receita leva arroz, leite de coco, dendê, camarão fresco, camarão seco, carne seca desfiada, cebola, alho, pimenta, coco ralado e coentro.
"Aqueles personagens de que ele gostava tinham que comer bem. Quando Gabriela larga Nacib ou quando Nacib larga Gabriela e fica em uma pior, ele tem de fazer um jantar e contrata um cozinheiro francês. E tem um amigo do Nacib que é livreiro e pergunta: ‘Que tal?’. ‘Muito bom, mas não presta’”, disse Paloma
Quantos sabores e cheiros temperam a obra de Jorge Amado. A casa do Rio Vermelho também transbordava de amigos e fãs. O aniversário de 85 anos foi do jeito que Jorge amava. Todo domingo era dia de festa.
"Era tão lindo tudo. Os poetas, os escritores. Ficavam nas varandas, nas domingueiras", lembra Paloma Amado. “São lembranças muito fortes”.
Ele costumava dizer: "A amizade é o sal da vida. Se você tem amigos, tem tudo".
Em um passeio pelas lembranças, Paloma Amado abriu os tesouros do romance real. A filha de Jorge Amado e Zélia Gattai conta que certa vez a mãe dela encontrou uma turista deitada na cama do casal.
"Logo no início, deixavam todo mundo entrar e ninguém ficava atrás para olhar. Então, um dia mamãe chegou aqui e tinha uma turista deitada em pose de vedete do Stanislaw Ponte Preta, e o marido dela estava fotografando. Minha mãe perguntou o que era aquilo. A mulher respondeu: ‘Eu vou voltar para São Paulo sem uma foto na cama do Jorge Amado?’. Minha mãe tirou ela da cama. Ela era fogo. Dona Zélia não deixava barato”, lembra. “Ela era ciumentíssima. Muitas vezes ele se metia entre turistas que estavam tirando fotos com papai e dizia para algumas que não podiam. Uma vez uma ficou por trás, baixou a mão e chegou na bunda dele. Mamãe chegou por trás e repreendeu”.
Não há coração que aguente uma partida de futebol. Mas o coração de Jorge Amado aguentava firme. É verdade que se estivesse vivo talvez fosse mais difícil. O glorioso Ypiranga não era só
o mais querido em Salvador. Era também uma das paixões de Jorge Amado.
Um amor retribuído. O time entrou em campo com Jorge Amado estampado no peito. A homenagem foi um presente ao torcedor centenário.
O Ypiranga precisa rezar muito. O time, que já foi dez vezes campeão estadual, hoje amarga a segunda divisão, lutando pelo acesso à elite do futebol baiano.
O aposentado José Gonçalves da Cunha diz que se lembra do torcedor Jorge Amado no estádio. "Como eu estou aqui, com a camisa amarela e preta. Era um cara que incentivava o time, vibrava, gritava, xingava o juiz. Era uma coisa", lembra.
Dois Jorges – dois netos de Jorge Amado – foram se juntar à torcida. E, como dizem, quem puxa aos seus não degenera. Eles herdaram do avô a paixão pelo Ypiranga.
"Eu sou Ypiranga, meu irmão é Ypiranga, meu sobrinho é Ypiranga, então, toda família prestigia essa volta do Ypiranga ao futebol baiano", conta o publicitário João Jorge Amado, um dos netos do escritor.
O advogado Jorge Amado Neto lembra o que o avô falava sobre o time: "Ele falava que o Ypiranga era um grande time, um time de muita tradição e que não precisava ganhar mais nada. O Ypiranga não precisava ganhar mais nada, porque todas as alegrias que o time tinha que dar já tinha dado para ele. Era um time de tradição, um time de história, que o que acontecia hoje era supérfluo, não era relevante para ele".
E a história de Jorge Amado foi parar em um belo prédio do Centro de São Paulo: a Estação da Luz. No local fica o Museu da Língua Portuguesa, que também festeja o centenário do mestre baiano.
Oitocentos litros de dendê, milhares de fitinhas do Senhor do Bonfim, os santos católicos e os deuses do candomblé para mostrar a grandiosidade da obra de Jorge Amado. Lá estão todos os símbolos da sua amada Bahia.
Uma parede é feita de amêndoas secas de cacau. Está pronta para virar chocolate. Dá até para sentir o cheirinho bom. Em outra parede, a Bahia, colorida, alegre, rica, pobre, misteriosa. Quem visita a exposição no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, faz uma viagem ao mundo de Jorge Amado. Uma viagem guiada pelo próprio escritor Jorge Amado, pai de muitos personagens que representam o povo brasileiro.
http://g1.globo.com

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